quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Entrevistas


‘‘Todo mundo tem medo das Sandálias da Humildade’’
Idealizador do Pânico, humorístico de sucesso na tevê e no
rádio, diz por que dá certo criticar celebridades e conta que
as brincadeiras já afastaram um patrocinador
texto: Claudia Jordão
FOTOS: piti reali

Há 11 anos, Emílio Surita faz a garotada rolar de rir com suas tiradas escrachadas no Pânico, programa diário da Jovem Pan, líder absoluto em rádio desde 1994. Há um ano, vem vencendo a insegurança de fazê-lo ao vivo aos domingos na Rede TV!, onde tem alcançado média de
8 pontos e picos de 13 no Ibope, num horário de briga de gigantes, como Faustão e Gugu. Líder da trupe – são dez pessoas no total –, Surita trabalha de domingo a domingo, comanda reuniões de pauta, colabora na produção, na edição, apresenta e corre atrás de verba.
O radialista de 43 anos nasceu em São Manoel (SP), formou-se em advocacia, mas nunca exerceu a profissão. Casado há 15 anos com uma sueca e pai de dois filhos, ele é um apaixonado pelo trabalho.
“Falo para os moleques que o Pânico é único. A gente trabalha e se diverte ao mesmo tempo. É isso que importa na vida.”

Quando criança, você era o moleque gozador da sala de aula?
Nunca fui de tirar sarro, de fazer imitação na escola. Não tenho nenhum palhaço na família, meu pai era advogado e minha mãe, professora.
Não me considero humorista, sou radialista. Esse rótulo de programa de humor não é o ideal, não o vejo assim. O que acontece é que o Pânico sempre foi pautado pelo bom humor, pela brincadeira, pelo escracho.
O programa não é feito por humoristas, o único é o Wellington Muniz, que faz o Ceará e o Silvio Santos.

Dá para aprender a ser engraçado?
Ah, você acaba aprendendo as sacadas de humor, onde fica mais engraçado. Aprende a técnica do negócio.

Sua família dá algum palpite?
Tenho dois meninos, um de 12 e outro de 11. O menor, Eduardo, é mais espirituoso que o maior, o Emilinho é mais sério. É claro que de vez em quando acabam dando palpite, mas não tem essa de se envolver muito. Minha mulher é sueca e não tem nada a ver com o meio, trabalha em uma joalheria.

Como o Pânico migrou para a tevê?
Foi idéia do Tutinha (Antônio Augusto Amaral de Carvalho, dono da Jovem Pan). Ele tinha montado um estúdio com câmeras aqui na rádio para um site dele, o Vírgula. Os programas começaram a ter muito acesso. Aí, o Tutinha falou: “Vou criar um programa para a televisão”. Ele pegou a fita e levou para a Band e depois para a Rede TV!.
Lá, o Marcelo (Fragali de Carvalho) e o Amilcare (Dallevo) disseram: “Vamos experimentar”. Aí foi aquele negócio, todo mundo falando que rádio não dava certo na televisão. O horário é muito difícil, é uma
disputa muito grande, com Faustão, Gugu. Foi que nem o desembarque na Normandia. Falaram: “Vamos desembarcar a tropa aqui e vocês vão lá e vêem o que acontece”. Tinha coisa que não funcionou na rádio e que lá funcionou.

O que, por exemplo?
O que mais deu certo foi criticar as celebridades, é o que as pessoas mais comentam. Isso surgiu de uma falta de celebridades. Ninguém queria vir ao programa. A gente fez o primeiro e o Júnior foi. Já era ouvinte da rádio e topou. O programa ficou legal. Então, falamos:
“Bom, agora todos os artistas vão vir”. Só que não foram.

O Pânico dá pânico nos artistas?
Não, não é isso. É que a gente não tem prestígio, o artista prefere ir à Globo e ao SBT. Foi aí que veio a idéia do Repórter Vesgo e do Silvio Santos, de eles irem onde essas pessoas estão.

Como o programa sobrevive com tão pouca verba?
No início, a verba de produção era de R$ 1,2 mil por semana. Agora aumentou para R$ 2,5 mil. Antes não éramos contratados da Rede TV!, agora somos. Mas tem que ser aos poucos mesmo. Ninguém vai enfiar rios de dinheiro num bando de caras que vêm de rádio. Tudo bem se você fosse contratar Os Trapalhões, o Tom Cavalcante, o Casseta & Planeta, daí você investe.

Qual a sua ambição para o Pânico?
A minha única preocupação é conseguir deixar o programa com um nível legal toda semana. E isso é difícil porque a gente não tem dinheiro, prestígio e presença de artistas. A gente queria fazer a brincadeira de colocar uma peruca do cantor Roberto Carlos no jogador Roberto Carlos. Ele disse não. Mas no programa do Luciano Huck ele foi vestido de mulher, toda a Seleção Brasileira foi vestida de mulher e fizeram uma novelinha. Ele tem prestígio, é da Globo. Mas talvez com o tempo a gente consiga esse prestígio, não sei.

Qual é a marca do programa?
É o quadro “Sandálias da Humildade”, porque caiu no gosto das pessoas, se tornou popular. Ser humilde não chega a ser uma virtude. Mas, é que na verdade tem muito artista que se acha muito mesmo, então, com as “Sandálias”, fica todo mundo com medo

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